Tantos anos se
passaram quanto quando não se percebe ver passarem, o suficiente para ter
passado despercebido mudanças em sua visão periférica de sua própria
silhueta... não notando o próprio corpo envelhecido, corpo este destituído de
ofício. Abandonara a profissão de psiquiatra e os estudos de terapia
comportamental, escrevera um livro sobre técnicas de mimetismo social,
discorrendo um assunto efetivo em seu campo de estudos, inovando com o conceito
onde o paciente deve seguir um roteiro, agir pela apropriação da similitude em
seu meio social, assunto que ganhou prestígio pois tinha como resultado
interior para quem se recupera de um incidente emocional que ela haja pelo bem
social do seu interior para o universo exterior ao qual ela frequenta, tese
esta que derrubaria a necessidade de medicamentos e intervenções no universo da
vida do humano atendido pela técnica, preservando seu respectivo capital
empírico pessoal. Assunto este fez o nome e com isso, lhe deu acessos, mas não
se importou com isso, não era ele refém de sentimentalismos familiares, tão
pouco tinha para quem deixar legado e a vida consistia em continuar o caminho
de experiências, de aprender com a dor, de crescer no seu interior, atingir uma
iluminação como último ato da peça teatral que é viver.
Acordo tarde, como
é frequente... ter por perto água se tornou mecanismo de sobrevivência, me
agrada os bares próximo desses convites de palestrar e saber que acordar tarde
não é problema, não vejo necessidades de resistir, gosto do meu alter ego. Ainda
bem vestido, apesar de corpo e alma amarrotadas, noto dentro do meu paletó um
papel amassado, mas não deve ser meu, o conteúdo tem afeto. “Não acredito que estes revolucionários acreditaram
em você, mas me conforta é entender que eu própria acredito quando diz gostar
de mim...”