segunda-feira, 19 de junho de 2017

Diário de um psiquiatra: Testemunha espiritual.

Anexo ao laudo: Perfil psicológico e social; Davi Marcondes. 1. Chovia muito e Davi descartava lixo na lateral do bar, com os olhos serrados para evitar entrar a insistente água da chuva. Não havia notado a princípio, mas ao girar os pés no ímpeto de voltar ao conforto do abrigo esbarra a ponta do sapato em um volume no chão, alguns passos depois ele decide olhar e já com o corpo todo protegido na porta lateral do bar percebe que é um corpo, seu pensamento individualista secular o diz pra entrar e cuidar da contabilidade para fechar, assim que a chuva cessasse. 2. Davi outrora fora pastor da última geração de igrejas protestantes, a teologia tendeu à unificação e desde o século XXII não se fala mais em denominações populistas, todas elas se tornaram centros de gestão social estatizada. Mas esse assunto não interessava tão pouco para ser pensado, o que o sistema quer e o que o povo deseja e suas respectivas equidades não lhe interessavam mais, superara com “que seja como Deus manda”, se mantendo cristão resiliente de sua fé, sendo ele um dos últimos no exercício do ofício, ao assinar o acordo de executar o plano de caridade institucionalizado pelo estado, ficou entre abrir um bar ou morar na rua. Decidindo abrir o bar com algumas reservas que tinha, neste bar passou também a morar. Dos fundos passando para uma construção modesta que ele próprio projetara e executara com suas mãos, bis neto de pedreiro do século passado herdara extinta tradição de labuta. Em temo contemporâneo todas as construções são por encomendas livres de encaixes por padrões de paredes, alicerce, acabamento, processo entre operadores e suas máquinas na mão de obra com cimentos, terra e brita do século passado. 3. Nesse sentido, voltando ao momento de lidar com a realidade de lidar com um corpo na sarjeta nos fundos de seu bar meditou Davi, e por esse motivo decidiu voltar e conferir vida no corpo, encontrando recolheu este corpo e o depositou no antigo quarto do andar debaixo, seu antigo quarto, nos fundos do bar, o deixando ali, notou que aquele pobre coitado tinha um bilhete no bolso, parecia papel de conteúdo romântico em uma caligrafia que não lhe era estranha, mas não constava nenhum nome. O deixou e pensou em algum agasalho e antes que encontrasse viu o sujeito se recolher, satisfeito, em um abraço individual e aparentemente confortável, o cobre com um cobertor sem personalidade e ali o deixa com fechaduras destrancadas para partir quando quiser. Não podia esperar, de manhã teria a café da manhã de comemoração de promoção com a filha, sua querida tecnocrata. 

Depoimento de um esquizofrênico: Auto-penitências

Há meses preso nesse ciclo, talvez não merecia tanta confiança dada pelo meu especialista... não consigo lidar com a pressão dessa vida, co...