terça-feira, 23 de novembro de 2010

Embaixo de uma árvore fria, sinto o sangue circular mais quente que deveria, a pele do meu rosto deixou de ser tão áspero quanto de costume, agora é macio, úmido. Não consigo ver o céu, não me vejo com coragem pra olhar pra tão alto assim, o que sinto é uma vontade enorme de recolher-me dentro de mim mesmo, com o pescoço afundado nos ombros, crânio levemente inclinado entre meus joelhos. Sentado nesta terra fria, que parece rejeitar minha inclusão. Ouço o vento de leve atravessar a folhagem. Ouço algumas folhas secas se desprenderem, numa tentativa poética de se comunicar comigo. Minha garganta dilatando, meus pulmões com uma sede incomum de ar, aperto minhas mãos com muita força, e o que sinto é um vazio me inundando com mais força que a que ponho nos punhos. Meu coração bate me fazendo cócegas no corpo, agindo num espaço tão apertado. Sinto o frio do vento agora me abraçar, e imediatamente invadir todas as minhas vias, atravessarem toda a pele e circular com intensidade em todo o meu corpo. O frio do vento me invadiu a razão me causando calafrios, participando de todos os meus pensamentos, criando um clima gótico. Incluindo em tudo que penso uma tempestade seca, sem brilho do dia, cheia de folhas ao vento, na penumbra de um velho pântano. Uma onda de ar quente percorre todas as vias aéreas, expulsando tudo isso, saindo com força. Meus ouvidos captam um grito agudo e cheio de desespero, liberando hormônios, agindo por instinto. Minha percepção racional identifica a voz do grito, me vejo sentado à beira de uma velha árvore, no chão, apertando com força minhas pernas enquanto grito aos limites da minha garganta. Os olhos quentes e em lágrimas, com folhas velhas passando por mim enquanto algumas ousam em me tocar...

Arnaldo Junior

Depoimento de um esquizofrênico: Auto-penitências

Há meses preso nesse ciclo, talvez não merecia tanta confiança dada pelo meu especialista... não consigo lidar com a pressão dessa vida, co...