sábado, 24 de janeiro de 2009

Depoimento de um psiquiatra

Esses dias resolvi dar uma volta, cancelei meus clientes de hoje, seus devaneios podem esperar por 1 dia, mas não consigo ir tão longe do meu consultório, tinha estacionado numa reserva urbana a mais ou menos uns 8 km da minha casa, não muito longe, mas o suficiente pra eu poder me sentir livre, menos insano, e poder respirar um pouco do que costumam respirar por aí. Declino um pouco o banco do carro, desligo o rádio, tiro um cigarro do bolso e me precipito a acendê-lo, de relance vi o meu mais assíduo cliente, sentado a beira de uma arvore, gesticulando com alguém, não sei se me frustro por vê-lo, gostaria de apenas ligar o carro e sair dali, mas me limito em observá-lo. Ele está a uns 10 metros de mim, e com certeza não está acompanhado. O observo, daqui consigo ver sua expressão, parece ser de alivio, sempre o via com a testa enrugada de stress, ou preocupação, mas ele nunca foi de se abrir totalmente, imagino que ele já tinha interesse em não ir no consultório hoje, seria gratificante saber de noticias boas, de uma conversa mais amigável, me incomoda saber todos os seus defeitos, todos os seus tormentos, e não poder saber o que o faz feliz. Sinto uma sensação estranha de levantar-me, penso um pouco e destranco a porta, no ímpeto de sair sou recebido por um temporal repentino. Desisto do meu cigarro, e tento ver através da grossa chuva como teria reagido o meu paciente diante a chuva, não sei se é o efeito da chuva sobre meu vidro, mas ele está nitidamente sorrindo, um sorriso de dor satisfeita, como se tivesse deixado uma necessidade de lado por uma razão maior, conheço bem essa expressão, e sei o quanto as ações que o levaram e ela foram difíceis, porém recompensadoras. Fui egoísta minha vida toda, não passei por isso, minha experiência é alheia, observo expressões, sentimentos, ações, reações, todo tipo de conseqüências de determinadas razões alheias, não me rendo as fraquezas humanas, prefiro não ser feliz do que ser e correr o risco da infelicidade amargurada. Já meu cliente é o oposto, ainda me pergunto porque ele se diz tão parecido comigo, ele parece viver tão intensamente, fez escolhas difíceis, pagou por isso, foi feliz, foi triste. Mas continua vivendo, um dia após o outro. Não sei se 3 sessões de psiquiatra semanais seria um preço razoável as suas escolhas. Agora estou eu sozinho num carro, com medo da chuva, e ele se inebria com pensamentos em explosões de sentimentos, rindo do efeito da chuva em seu corpo, brincando com a água na grama. A experiência nos prova divergências assustadoras.

Depoimento de um esquizofrênico: Auto-penitências

Há meses preso nesse ciclo, talvez não merecia tanta confiança dada pelo meu especialista... não consigo lidar com a pressão dessa vida, co...