segunda-feira, 1 de outubro de 2012



#primeiro depoimento de um esquizofrênico de outubro de 2012.

Era madrugada, senti o tempo fechando lá fora, ouço o vento ganhando força, sinto-o atravessando a madeira velha da estrutura deste quarto. Por falar nisso, não reconheço este quarto. Começo a sentir o bom cheiro da terra se umidificando antes mesmo de sentir a chuva tocar sutilmente o telhado. Ao ritmo do tempo me desprendo de pensamentos, acompanhando a evolução do som da chuva, até que não penso em mais nada, fecho os olhos e o sentimento do som invade por completo todos os meus sentidos. 
Como que abruptamente interrompido por algo, a chuva sede. Os pensamentos me consomem novamente. Passo a mão sobre o rosto de barba áspera, não conseguia me lembrar da última vez que a havia feito.
Meu corpo esparramado sobre uma cama de lençóis dobrados ao extremo da desordem parece rejeitar a realidade, parecia habitado de pouca vida, parecia guardado em qualquer recipiente a meses. Me movimentei, mas logo paralisei, ao me acostumar com a luz que vinha do banheiro de porta aberta observei que meu corpo estava todo rabiscado, escrito de coisas, de números, de fórmulas. Passo a mão sobre minha pele tentando limpar. Minha visão periférica capta algo ainda mais ilógico: rostos, fotografias, recortes de coisas. A parede estava repleta de tudo isso, cada uma com marcações ligando outras imagens, outros textos. Meu Deus...
Me levando, inevitavelmente emito um gemido. Meu corpo formiga pelo fluxo de sangue. Meus músculos parecem inapropriados ao meu corpo.
O que estive fazendo por tanto tempo? A razão me traiu, era a explicação mais lógica. Talvez a razão havia deixado de existir. Talvez eu a libertei. Mas agora terei o controle novamente, acho.
Preciso saber do meu médico, preciso sair daqui, preciso analisar as prescrições dos medicamentos...
Arnaldo Junior

Depoimento de um esquizofrênico: Auto-penitências

Há meses preso nesse ciclo, talvez não merecia tanta confiança dada pelo meu especialista... não consigo lidar com a pressão dessa vida, co...