segunda-feira, 15 de setembro de 2008

De volta pro divã, não sei o quanto me sinto a vontade sentado aqui, creio que não muito, a tempos eu não voltava aqui, hoje tive um relapso de pensamentos soltos, dois deles, um aberto e outro fechado, não sei qual me fez pior, talvez o fechado, pois comecei a sentir ímpetos de rancor, porem muito passageiros, hoje vim aqui pra depor algo peculiar do meu dia, muito peculiar, nunca tinha chegado a esse nível, talvez eu ache graça disso em um outro dia, porém hoje não me sinto bem nem de relatar isso, tenho o meu psicólogo onde eu quero, sentado na sua sombra do quarto, com as têmporas flexionadas, num sinal de stress, ou preocupação, ele se parece tanto comigo e eu não faço idéia do que ele esteja sentindo quanto a isso tudo, essa reunião não é de caráter emergencial, não era tão necessário estar deitado aqui, enfim, vou relatar supondo por horário os fatos, pois não tenho certeza da exatidão em horários, mas a cronologia é estável.

“Estava eu, mais ou menos 20h e alguns minutos sentindo uma vontade enorme de conversar com alguém, liguei e pedi pra quem estava lá dar recado da minha disponibilidade em falar com a mesma quando tal estivesse disponível, alguns minutos se passaram, me vi muito ansioso, andei freneticamente na faculdade, senti meu corpo estranho, minhas mãos esfriarem muito, uma vontade de dormir, um calor estranho, não sei se fiquei tonto, ou com preguiça de firmar minha vista, mas continuei andando, acho que isso ajude em descarregar a mente, pensei em bilhões de coisas, enquanto aguardava, não sei o quanto a ansiedade pode me machucar, as vezes sinto-a como envolto em minha alma, em forma de arame farpado, não sei como descrever isso, enfim, talvez umas 20h30 resolvo correr, lembrei de uma praça a uns 150mt da faculdade, corri, a vontade era correr o máximo de mim, mas essa vontade não foi eloqüente o suficiente pra dominar minha coerência, apenas corri, chegando lá olhei de novo pro meu celular, eram 20h35, tinha uns aparelhos de abdominais, peguei o mais íngreme e fiz quatro sessões de 15, já estava me sentindo melhor, resolvi voltar andando, eram 20h40 em média, umas 20h45 eu estava ligando de novo, resolvi ligar direto pra quem me interessava, confesso, minha mente entrou em turbilhão de emoções, foi um tanto estranho quanto incrível, mas me contive o suficiente pra me desculpar, despedir-me e desligar, andei mais um pouco pela faculdade, eu estava muito estranho, novamente meu corpo teve as características anteriormente citadas, procurei um lugar discreto pra tentar chorar pra ver se aliviava, não fiz o suficiente, continuei acelerado, fui numa torneira e me lavei praticamente do busto pra cima, aquilo teve um efeito interessante em mim, fui pra sala e fiquei muito grogue, olhando pro nada, não sabia distinguir o que estava sentindo, confesso porem, que estava pensando em absolutamente nada, minha mente não captava o ambiente, não captava vozes, não captava a sensação do meu corpo, muito menos a minha situação levemente constrangedora que eu me encontrava ao público, ouvi-me por algumas vezes, me perguntando o que era isso, o que eu estava de fato sentindo, o quão isso poderia ser normal, me perguntei se estou louco, e lembrei de uns comentários populares de que o louco nunca se considera louco, isso foi reconfortante, me vi recostar na cadeira, voltando a sentir meu corpo, relaxado e leve, notei meu cabelo muito molhado, mas lembrei-me de ter tomado cuidado de ter secado-o pra não chamar muita atenção, relaxei por isso também, prestei atenção nas pessoas ao meu redor, não ouvia nada mas achei engraçado o movimento de seus lábios, em expressões referentes a fala, imaginei que, pra um comentário acadêmico qualquer usava-se expressões simples e habituais, eu estava rodeado de pessoas normais e que talvez dividissem pensamentos e constrangimentos semelhantes, alguns até piores, mas não deixavam de ser normais, pensei nisso e logo após fiz um levantamento dos meus motivos pra tão circunstancia, achei tudo um pouco ridículo e resolvi devolver uma ligação um pouco mais natural, lógico, ressentida, pois me dominava um sentimento de culpa, pensei o quão egoísta é esse sentimento, porque por mais que você acabe se redimindo por um ato, você não deixa de pensar em você mesmo, pois o interesse maior é se sentir aliviado, reconfortado, ironicamente, reconfortando alguém, mas enfim, fi-lo e a sensação foi a esperada, mas não me senti tão reconfortado assim pois minha mente ainda brincava de pensar num desespero estranho, voltei pra sala após a ligação, peguei um mp3player e me senti muito melhor em ouvir músicas rápidas e pesadas, terapia estranha e nada original, de lá pra cá venho remoendo pensamentos soltos sobre as coisas, sobre algumas mudanças, sobre alguns sacrifícios, sobre pensar e deixar de pensar, sobre agir e no deixar de agir, sobre sentir e no deixar de sentir, pensei muito, não sei o quanto isso possa ter me ajudado ou não, não sei o quanto estou disposto a representar os fatos com minhas teorias, não sei o quanto sei sobre essas coisas”

Depoimento de um esquizofrênico: Auto-penitências

Há meses preso nesse ciclo, talvez não merecia tanta confiança dada pelo meu especialista... não consigo lidar com a pressão dessa vida, co...