#primeiro depoimento de um esquizofrênico de outubro de 2012.
Era madrugada, senti o tempo fechando lá fora, ouço o vento
ganhando força, sinto-o atravessando a madeira velha da estrutura deste quarto.
Por falar nisso, não reconheço este quarto. Começo a sentir o bom cheiro da
terra se umidificando antes mesmo de sentir a chuva tocar sutilmente o telhado.
Ao ritmo do tempo me desprendo de pensamentos, acompanhando a evolução do som
da chuva, até que não penso em mais nada, fecho os olhos e o sentimento do som
invade por completo todos os meus sentidos.
Como que abruptamente interrompido por algo,
a chuva sede. Os pensamentos me consomem novamente. Passo a mão sobre o rosto
de barba áspera, não conseguia me lembrar da última vez que a havia feito.
Meu corpo esparramado sobre uma cama
de lençóis dobrados ao extremo da desordem parece rejeitar a
realidade, parecia habitado de pouca vida, parecia guardado em qualquer
recipiente a meses. Me movimentei, mas logo paralisei, ao me acostumar com a luz
que vinha do banheiro de porta aberta observei que meu corpo estava todo
rabiscado, escrito de coisas, de números, de fórmulas. Passo a mão sobre minha
pele tentando limpar. Minha visão periférica capta algo ainda mais ilógico: rostos,
fotografias, recortes de coisas. A parede estava repleta de tudo isso, cada uma
com marcações ligando outras imagens, outros textos. Meu Deus...
Me levando, inevitavelmente emito um gemido. Meu corpo
formiga pelo fluxo de sangue. Meus músculos parecem inapropriados ao
meu corpo.
O que estive fazendo por tanto tempo? A razão me
traiu, era a explicação mais lógica. Talvez a razão havia deixado de
existir. Talvez eu a libertei. Mas agora terei o controle novamente,
acho.
Preciso saber do meu médico, preciso sair daqui,
preciso analisar as prescrições dos medicamentos...
Arnaldo
Junior