sábado, 24 de outubro de 2009

Hopital psiquiátrico e seu esquizofrênico

É 4h da manhã, gosto seco e metálico; vejo um enorme branco que preenche totalmente minha mente, nenhuma memória ousa macular paz, não quero me preocupar com essas memórias, sou feliz com o branco que agora vejo, infelizmente não dura muito, o que era uma delicia me mata de tédio, os desejos obsessivos por qualquer que seja o pecado de pensamento estupraram essa paz, que instinto é esse? A quanto tempo ele mora comigo? Fora essas perguntas, o instinto habita entre um branco único e intenso aqui dentro, não esperava por isso, mas esse sentimento foi evoluindo, senti uma dor enorme nas minhas pernas, a dor é vermelha, de um vermelho vivo, um pensamento vermelho vivo. Mas isso não é um pensamento, a dor é física, resolvo deixar de olhar pra dentro, e olho pra fora e vejo meus dedos cravados às pernas, cravados a ponto de fugirem-nas as cores, talvez seja o vermelho por dentro, mas não é isso que me impressiona, é meu corpo nu, por um momento esqueço a dor, e ignoro meus instintos naturais sendo assassinadas pela dor, e observo meu corpo totalmente nu, minhas unhas estão pessimamente cuidadas, mas não extintas de algum zelo, a falta de cor também consumiu tudo por fora, a cama, o lençol, as paredes, percebo que estou tremendo, seria de dor? Não, talvez seja de frio, sinto frio só de olhar nas paredes, um azulejo marcado com o tempo, sussurrando seu passado sombrio e caótico, sussurrando alertas frenéticos e distantes, suficientemente frenético a ponto de os colocar tão longe, urgências nunca foram meu forte; hábito herdado da infância, digo. Vejo o florescer azul claro, um florescer leve como o cheiro doce e calmo de um abraço, analogia incoerente é meu forte, digo. Meu susto veio em seguida, acompanhado de um leve surto, ao perceber que o azul é minha pequena metrópole de veias nesse braço, mais fraco e branco que o habitual, mas não é isso que me chama a atenção, são essas veias, azul, verdes, essas duras cores, essa indecisão de cores que me impressiona, meu pequeno surto durou até eu ter certeza, essas veias não são minhas, logo: pouco me importa as cores. Não são meus, pois não os sinto, como também não sinto a mão com seus dedos que compõem esses braços, dedos que cravam essas pernas, que definitivamente não são mais minhas, não mais. A dor passou, não sei de quem roubei essa dor, mas o vermelho vivo e eloqüente nem se quer vejo mais.

Depoimento de um esquizofrênico: Auto-penitências

Há meses preso nesse ciclo, talvez não merecia tanta confiança dada pelo meu especialista... não consigo lidar com a pressão dessa vida, co...