sexta-feira, 8 de agosto de 2008

De volta ao divã, o outro eu, mais cansado, e mais habituado com o anonimato de uma sombra no quarto, se ajeita na cadeira, faz um gesto também muito habitual para que eu me recoste, está cada vez mais confortável isso aqui, ele comenta que estou inquieto, cabeça baixa, e comenta algo que eu não tinha notado, nas minhas crises de insegurança mordo o canto dos lábios, achei isso tão desnecessário, me pego algumas vezes fazendo isso, o que me fez perceber que estou cada vez mais inseguro, não percebi matando meu amor próprio, nem me vi ocupando todo esse espaço com o mesmo sentimento mais agora, de fato, alheio, tenho um problema que seria a minha solução se fosse aplicado de uma forma mais distribuída, não posso estar preparado pra tudo, ainda mais surpresas, me surpreendi, incrível como não posso esperar de mim mesmo a coerência e consciência. De repente sinto uma mão quente sobre meu braço, o reflexo dos óculos me fez pensar a quanto tempo ele estava ali, ele percebe minha aflição e simplesmente sorri, amigavelmente, ele também deve ter seus problemas, suas dúvidas, uma consciência cruel e implacável, família, amores, ele pode ter ate mais problemas que eu, mais se privou disso pra ter os meus, pra sentir os meus, esse método de dividir problemas me ajuda, mais também queria ouvir, saber quem sabe da vida dele, ou ouvir que não tenho mais recursos, e que posso me livrar disso definitivamente e adotar minha peculiar anomalia psíquica, quem sabe seja mesmo isso, dizem que acima da psicologia está a religião, a espiritualidade, não sei bem como anda minha relação espiritual, nem se tenho divida com alguém pra colocar sua bondosa mão na minha mente e desgraçar minha estabilidade emocional e minhas estruturas, mais creio que não, nunca perdi alguém próximo a mim, muito menos fiz algum mal a alguém que já foi, e graças a Deus nunca tomei ninguém de alguém que já não esteja entre nos, chega a ser cômico isso, típico de um filme como “espíritos”, mais acho tudo isso muita hipocrisia, psicologia e religião é um só, inventaram tudo isso pra uma situação de consciência a mais, deixar de fazer as coisas pela fé, e viver em um padrão bom pela fé, que se faz errado te pesa a consciência, a consciência é onde?! Mente, psicologia é espírito, e meu estado espiritual e/ou meu estado psicológico está na mais instável condição que já senti. Quando percebi tinha dito tudo isso, em voz alta, pensamento esse, alto por sinal, tirou algumas risadas descontraídas do meu velho amigo, então digo ‘tenho um segredo pra te contar...’, ele assente, com um sorriso largo, balançando confortavelmente em sua poltrona com as mãos apoiadas no braço da mesma, apertando distraidamente as extremidades do velho couro amarronzado e gasto, ele não pergunta sobre o que, ou porque não conto agora, me sinto bem por estar me abrindo com alguém que tem paciência comigo, que um dia já me achou o mais previsível possível, mais não contava com o quanto minha mente podia causar-lhe surpresas, não me sinto tão comum, queria poder ser, com defeitos e qualidades habituais, tenho defeitos e qualidades que já não suporto! Me sento, coço a nunca em um breve sinal de descontração e devolvo o sorriso, quitando um débito fútil, não sei o que seria sem “mim”.

Depoimento de um esquizofrênico: Auto-penitências

Há meses preso nesse ciclo, talvez não merecia tanta confiança dada pelo meu especialista... não consigo lidar com a pressão dessa vida, co...