sábado, 26 de novembro de 2011

3h da madrugada, a cama parece se incomodar com meu toque, abro os olhos, e a escuridão, que deveria ser silenciosa e calma, parece habitar um caos, onde tudo parece querer explodir. Sinto meu corpo enrijecer, e automaticamente muda tudo, a atmosfera fica mais densa, o caos se transforma em um quase inferno, o negro do ambiente se avermelha, meu corpo esquenta, minha pele reage aos meus pensamentos, sou um animal selvagem, acordando de um sono cruel e enlouquecedor. Já sentado à beira da cama, apoio minhas mãos no colchão, inclino meu rosto, fitando onde seria o chão. Minhas mãos apertam onde tocam, sinto os músculos dos meus braços gritarem.
Levanto-me lentamente, apalpo as paredes, encontro a luz, aperto os olhos acostumando-me à luz. Sobre a pequena mesa de quarto, em algum lugar, há o meu remédio.  
Arnaldo Jr.

domingo, 13 de novembro de 2011


- (1) - Levanto-me, e arrastando os sapatos ao solo em madeira velha, me posiciono em frente ao fogão bem velho, vermelho batom com um preto bem preto. Um fogão que lembra 1945, não sei o porquê. Ascendo um fósforo já de madeira amarelada, e observo o fogo consumir a ponta avermelhada combustiva, acompanhando a evolução do fogo por causa da química, e o contato quase amistoso com a base emadeirada. Com a minha respiração, percebo o fogo dançar suavemente, uma comunicação insana entre minha existência, e o queimar do oxigênio, a quase insignificante existência de uma chama. Aperto bem os olhos, percebendo que os meus olhos encontraram enorme dificuldade em se abrir de novo. Não consigo me lembrar de quantos dias não durmo, sinto um sono, mas parece existir bem sutil ali próximo aos outros sentimentos, pensamentos, razões ou insanidades. Percebo o fogo já esquentando a ponta dos meus dedos, balanço a mão e jogo o palito já apagado em direção aleatória. Abandono o que quer que esteja tentando fazer e volto à sala, tenho cliente daqui a pouco e preciso já estar ambientado aos processos de praxe, eu sou o psiquiatra, não o louco.
- (2) – Hoje é sexta, é a noite da semana. Ando a passos suaves observando a brisa balançar a folhagem de plantas colocadas nas calçadas, um velho jornal faz barulho, e antes que eu tente encontra-lo, o sinto agarrando uma de minhas pernas, e ali fica por alguns segundos até o vendo o arrancar de vez e o levar até onde eu o perca de vista. Respiro fundo, já parado, e olho do outro lado da rua, não há casas, há uma praça, ou talvez um campo, talvez os limites da cidade, venho aqui todas as sextas, e a impressão que tenho é de que tudo sempre é diferente, sexta por sexta. Vou me virando sem pressa, já estou na porta do meu antigo amigo, sei que ele já me aguarda, é o dia de poder falar de minhas incoerências.
         Entro como sempre entrei, dou uma batida de leve com um dos dedos na porta, e entro silenciosamente. A sala, muito escura, sempre me surpreende por ser exatamente assim, exatamente como estava. Aceno pro anfitrião, e na penumbra, vejo sua silhueta fazer um sutil sinal de cumprimento com uma das mãos sobre a perna dobrada uma sobre a outra, com o outro braço apoiado em sua poltrona. Evito continuar olhando e, como em um velho ritual tão conhecido por ambos, me sento no divã, viro meu corpo, e vou deixando meu corpo sentir o couro cansado e de cheiro único. Sinto o barulho do material do divã ir se acostumando com minha pele, com meu peso, e vou fechando os meus olhos, deixando minha respiração ir se acalmando. Já calmo, abro os olhos, lentamente. E observando novamente a silhueta, percebo o brilho da armação dos óculos influenciada por alguma fresta de luz que invade a sala, estrategicamente ali, atingindo seu rosto. Ele se acomoda na poltrona, mudando a posição das mãos, unindo as duas em seu colo, entrelaçando os dedos, é o sinal pra que eu diga tudo que me vier. Que eu fale de meus pensamentos.
Arnaldo Junior

Depoimento de um esquizofrênico: Auto-penitências

Há meses preso nesse ciclo, talvez não merecia tanta confiança dada pelo meu especialista... não consigo lidar com a pressão dessa vida, co...