sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pensamentos soltos, Capitulo 5

É na delicia de um sentimento impuro que digo, veementemente, que meu maior prazer é o que de pior existe, vivi mil anos sem poder sentir o que agora sinto, alias, sei que já senti, mas nunca consciente do que agora sinto, se eu pudesse explicar em pecado, teria que falar um pouquinho de cada, se eu pudesse explicar como prazer, continuaria falando de pecados; Sei que lúcido sinto isso, não me foge a razão me deliciar carinhosamente do que ainda vai me fazer mal, se eu tivesse que me despedir de tudo que agora tenho, esse seria o texto, pois percebo que não terei oportunidades de calmaria, esperando meu ultimo suspiro escrevendo coerências do que virão a seguir; não é o fim também, a personalidade dos meus olhos nunca mentiu pra mim; inebrio-me com o que posso, como pode algo tão cruel, instável e impuro me deixar tão apaixonado assim? Paixão? Seria paixão o que sinto? Paixão pelo que? Paixão pelo sentimento impuro, talvez. Se eu pudesse me definir, como se fosse esse sentimento, teria que mudar a ordem de todos os meus órgãos, falar uma língua única, olhar como se observasse, sempre interessado nos resultados e apreciando anomalias, crises, maravilhosas mentiras, péssimas verdades. Desejando os extremos do pior de tudo, de tudo ao meu redor; Se eu pudesse ter esse sentimento como sagrado, o mesmo deixaria de ser soberano, deixaria de só observar, e passaria a trabalhar entre todas as coisas; se eu pudesse descrever esse sentimento em um romance, o cenário seria um quarto de uma casa velha, com papel de parede em tom vermelho, com moveis em branco, todos impecavelmente brancos, com flores em tons rosa, com uma cortina ao vento, leve e trabalhada, em duas peças, ambas dançando assimetricamente, como se não se comunicassem, extremamente brancas, por tom e pelo reflexo do enorme sou que corrompe e faz desenhos de folhas das árvores lá fora ao chão, um chão de madeira, avermelhado e desnivelado, com alguns espaços milimétricos suas entre travessas, lutando contra a claridade da luz que vem das janelas poderia ver uma arvore velha de folhas muito verdes, muito junto à janela, balançando fortemente ao vento, as vidraças fechadas ocultam o som dessa ventania. Num escravo mudo, todo branco, ao lado da cama branca de lençóis extremamente brancos, e cobertores amarrotados, também brancos, tem uma carta parcialmente amassada, ainda úmida, como que de lágrimas, ou suor, quem sabe? O som de fundo não é da ventania, como deveria ser, o som do fundo é de soluços, de grunhidos e ranger de dentes; Se eu continuar descrevendo-o em metáforas, escreveria um livro, agora mesmo, e não conseguiria te fazer sentir o que estou sentindo agora.

Arnaldo Junior

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