De repente me vejo sentado de novo de novo, massageando as têmporas, um receio infantil, a tempos não voltava, meu amigo, não sei bem se é de fato meu amigo, não me lembro de ter que pagar por ter que me abrir com ele, ou se isso realmente é um consultório, ele está mais velho, talvez cansado de ter que voltar a ficar ali, sentado, com os dedos entrelaçados e olhando pela sombra do rosto e os olhos na ponta do nariz, irregulares, inúteis, saudades de quando me sentia livre em ser louco, em não ter que precisar ta ali, sentado naquele divã de couro frio e cruel, me senti na guilhotina, meu intimo meu carrasco, não queria falar, minha respiração estava ofegante, voltei a massagear as têmporas, senti meu coração acelerar, meu corpo fica mais quente, meus pensamentos voltam a me incomodar, me machucam, não sinto mais minha respiração quente sob o nariz, e nem percebo que minhas sobrancelhas estão já dilaceradas, nem percebo que minha mandíbula se movimenta freneticamente, escuto um cerrar de dentes perturbador, sinto uma mão firme nos meus ombros, um olhar furioso sobre os meus, ou seria pena? me vejo contorcendo sobre um tecido frio, uma forte agulhada na mente, como se fios finos e rijos apertassem totalmente meu cérebro, e meus olhos não estivessem mais tão fixos e simétricos um ao outro, de repente sinto uma saudade enorme de respirar, a quanto tempo não fazia isso? Não me contenho e mato essa saudade tão peculiar, uma sensação de satisfação foi substituída por uma dor aguda, nunca imaginei que sentiria exatamente onde meu pulmão se localizava no meu corpo, ficou marcada por muito tempo pela marca das minhas unhas apertando sobre a pele, muito menos imagina o quanto o oxigênio poderia entrar tão cortante assim, respirar era um desafio, a dor se dissipava, meu coração voltou a se encaixar no seu lugar, minhas veias se dilataram, escutava um zumbido constante, me vi deitado de barriga pra baixo, uma saliva seca começou a me incomodar no canto da minha boca, me vi ridículo, meu “amigo” agora estava de pé, com uma das mãos levada ao queixo com os braços semi-cruzados, um olhar preocupado, a tempos não conseguia olha-lo nos olhos, o reflexo da luz sobre mim ofuscava a transparência da sua lente, me senti muito sozinho, lagrimas quentes percorreram meu rosto, mais não me senti triste, muito menos tinha sentido vontade de chorar, nem me senti aliviado por ta fazendo isso.
Já deitado, com as pernas cruzadas, e as mãos soltas ao lado do meu corpo, tentei fazer desenhos com detalhes no teto, não queria falar, falar me levava a pensamentos, e meus pensamentos me crucificavam, sabia que faltava em mim segurança de mim mesmo, auto-consciência, malicia em viver, tava sendo tão cruel comigo mesmo, guardando tanta coisa, sentimentos e ações contidas, um acumulo infinito de tudo isso... não to preparado em relatar o que sinto, não quero ser julgado agora pelo meu “amigo”, agora não, quero ficar quieto, as vezes pensando superficialmente em o que fazer, ainda não perdi a razão, e muito menos a vontade de resolver isso sem precisar ser do modo mais fácil, se tiver que ficar pior, quero ver até onde pode ficar.